Andreas "Xyp9x" Højsleth, lendário jogador da Astralis com quatro títulos de Major no currículo, agora vive uma nova realidade como técnico assistente da MOUZ. Em entrevista exclusiva ao HLTV durante o BLAST.tv Austin Major, o dinamarquês falou sobre sua transição da carreira de jogador para o papel de mentor e como está aplicando sua vasta experiência para desenvolver jovens talentos.

Da glória nos servidores para o papel de mentor

Conhecido como "The Clutch Minister" por sua incrível capacidade de decidir rounds importantes, Xyp9x deixou oficialmente a carreira de jogador em março de 2024 para assumir como técnico assistente da MOUZ. Trabalhando ao lado de Dennis "sycrone" Nielsen, ele agora dedica seus dias a transmitir conhecimento para um time que, em determinado momento, carecia de experiência.

O que mais me surpreendeu nessa transição? Como alguém que sempre esteve do lado de dentro do jogo, precisei aprender a enxergar as coisas de uma perspectiva completamente diferente. Não se trata mais apenas da minha performance, mas de entender e elevar o potencial de cinco jogadores diferentes.

O desafio de lidar com as emoções dos jogadores

Xyp9x revelou que uma parte crucial do seu trabalho é reconhecer o comportamento dos jogadores e identificar quando eles estão sentindo certas emoções, especialmente o nervosismo que pode afetar o desempenho.

"Existem duas coisas importantes", explicou. "Há o reconhecimento do comportamento do jogador e a percepção de quando eles estão se sentindo de determinada maneira. Muitos jogadores não expressam seus sentimentos ou tentam escondê-los, então primeiro preciso perceber isso, ver que 'ok, esse cara está realmente nervoso. Posso conversar com ele? Qual é a abordagem?'"

Ele enfatizou que sua abordagem não é impor soluções, mas criar uma atmosfera mais leve: "Mostro para eles que podem ficar nervosos. É normal ficar nervoso. Eu também ficava nervoso quando jogava. Não é algo que você conserta da noite para o dia. É algo contínuo que você, como pessoa, como indivíduo, precisa controlar."

Adaptando a experiência à nova geração

Xyp9x foi categórico ao afirmar que não adianta simplesmente replicar as experiências do passado: "Não posso chegar e dizer: 'Ei, no meu tempo eu fazia isso, eu fazia aquilo.' Não vai funcionar com eles porque não somos todos iguais."

Em vez disso, ele adota uma abordagem mais sutil: "Posso tentar dizer: 'Ok, vejo que agora você não está no seu melhor. Talvez esteja um pouco nervoso.' Se ele disser que não, provavelmente não está aberto ao feedback. Talvez eu estivesse certo, mas não há mais nada que eu possa fazer então."

O dinamarquês destacou que não existe uma receita pronta para lidar com as emoções dos jogadores. Na sua visão, o processo é mais holístico e requer paciência e compreensão individualizada.

O processo de evolução contínua

Questionado sobre se já atingiu todo seu potencial como técnico assistente - algo que esperava alcançar seis meses após ingressar no time - Xyp9x foi humilde ao reconhecer que ainda tem muito a aprender.

"Ainda acho que tenho espaço para crescer dentro da MOUZ", admitiu. "Acredito que comecei a entender melhor os processos e também a implementar minhas ideias dentro do time."

Ele também falou sobre a importância do equilíbrio na preparação dos jogadores, mencionando que quer evitar "exagerar" como algumas equipes fazem ao preparar seus atletas para as partidas.

Durante a entrevista, Xyp9x ainda compartilhou suas perspectivas sobre a trajetória recente da Astralis, as críticas dirigidas a Danny "zonic" Sørensen na Falcons e suas dúvidas iniciais sobre Ludvig "Brollan" Brolin assumir a capitania.

A entrevista completa está disponível no canal do HLTV no YouTube.

A parceria com sycrone e a dinâmica da equipe técnica

Trabalhar com Dennis "sycrone" Nielsen tem sido uma experiência reveladora para Xyp9x. A dupla dinamarquesa encontrou uma sintonia que vai além das estratégias de jogo. "O sycrone traz uma energia diferente para a equipe", compartilhou Xyp9x. "Ele tem essa capacidade incrível de manter o ambiente leve mesmo nos momentos mais tensos, enquanto eu me foco mais nos aspectos técnicos e emocionais."

E como funciona essa divisão de responsabilidades? Na prática, sycrone assume mais o papel de principal voice inside the game, enquanto Xyp9x se concentra na preparação individual dos jogadores e na análise de adversários. "É quase como se eu fosse o especialista em detalhes e ele o generalista", comparou. "Juntos, cobrimos espectros complementares do que um time precisa."

O que mais me impressiona nessa parceria é como dois estilos aparentemente diferentes conseguem se complementar tão bem. sycrone, com sua abordagem mais descontraída, e Xyp9x, com sua meticulosidade característica - é como yin e yang encontrando equilíbrio.

Os desafios específicos da MOUZ

Xyp9x foi bastante franco ao discutir os desafios específicos que a MOUZ enfrenta como organização. "Temos uma das melhores academias do mundo, mas isso também significa que estamos constantemente perdendo jogadores para times maiores", explicou. "É uma faca de dois gumes: você desenvolve talento excepcional, mas precisa se preparar para eventualmente perdê-lo."

Essa realidade impõe um ritmo de trabalho diferente. "Precisamos ser extremamente eficientes no desenvolvimento dos jogadores", continuou. "Não temos o luxo de anos para amadurecer um roster - às vezes temos meses, ou até menos."

E como isso afeta sua abordagem? "Tento concentrar-me no que chamo de 'fundamentos perenes' - habilidades mentais, resiliência emocional, capacidade de adaptação. São qualidades que servirão a esses jogadores independentemente de onde estejam jogando."

Curiosamente, Xyp9x vê paralelos entre sua experiência na Astralis e o atual desafio na MOUZ. "Na Astralis, éramos veteranos buscando manter o topo. Aqui, são jovens buscando chegar lá. As pressões são diferentes, mas a essência competitiva é a mesma."

O aspecto humano por trás das performances

Uma das revelações mais interessantes da entrevista foi como Xyp9x está aplicando seu famoso "clutch mindset" ao coaching. "A mentalidade para momentos decisivos não é algo que se ensina com drills ou exercícios", refletiu. "Vem da confiança, da preparação mental, e principalmente da capacidade de gerenciar expectativas."

Ele compartilhou um exemplo concreto: "Recentemente, um de nossos jogadores estava visivelmente ansioso antes de uma partida importante. Em vez de discutir táticas, conversamos sobre... nada relacionado ao jogo. Falamos sobre música, sobre planos para as férias, sobre qualquer coisa que o distraísse da pressão."

O resultado? "Ele entrou no servidor mais relaxado e teve uma de suas melhores performances. Às vezes, o melhor preparo técnico é não falar sobre o jogo."

Xyp9x também está aprendendo a adaptar sua comunicação para diferentes personalidades. "Alguns jogadores respondem melhor ao feedback direto, outros precisam de uma abordagem mais sutil. Descobrir isso é parte do processo - e admito que ainda cometo erros às vezes."

As lições inesperadas da transição

O que Xyp9x não antecipou foi o quanto aprenderia sobre si mesmo nesse processo. "Como jogador, você está focada em seu próprio desempenho. Como coach, você precisa entender cinco mentalidades diferentes simultaneamente", explicou. "Isso te força a desenvolver uma empatia que nem sabia que possuía."

Ele também descobriu que sua experiência como jogador de elite é tanto uma vantagem quanto um desafio. "Às vezes, assumo que certas coisas são óbvias porque para mim sempre foram. Mas para um jogador mais novo, podem ser conceitos completamente novos. Aprendi a nunca subestimar o básico."

E talvez a lição mais valiosa: "Percebi que não preciso ter todas as respostas. Às vezes, apenas fazer as perguntas certas é suficiente para que os jogadores encontrem suas próprias soluções. É incrível ver isso acontecer."

Xyp9x ainda estava refletindo sobre como sua percepção do sucesso mudou desde a transição. "Como jogador, sucesso era vencer torneios. Agora, sucesso é ver um jogador superar uma limitação mental ou técnica. São vitórias diferentes, mas igualmente gratificantes."

A entrevista continuou com insights sobre a evolução meta do Counter-Strike, particularmente como as mudanças recentes no game afetam o desenvolvimento de jovens talentos. Xyp9x compartilhou preocupações interessantes sobre como o ritmo acelerado das atualizações pode impactar a consistência no desenvolvimento de jogadores - um tema que claramente o fascina tanto quanto preocupações.

Com informações do: HLTV