Um movimento por mais representatividade

Letícia "Tris_Mara" Mara está liderando uma iniciativa importante no cenário competitivo de Counter-Strike. A streamer lançou o programa Na Mira Delas, com o objetivo claro de dar mais visibilidade ao cenário feminino do jogo. "Não queremos mais esperar espaço, temos que construir o nosso", declarou Tris_Mara em entrevista exclusiva ao Dust2 Brasil.

O que começou como um simples programa de transmissão rapidamente se transformou em algo maior. "Minha expectativa é que ele não seja só um programa, mas um movimento", explica a streamer. E esse movimento já está mostrando resultados, atraindo não apenas jogadoras, mas também espectadoras que finalmente se sentem representadas no universo dos eSports.

Mais que visibilidade: uma questão de pertencimento

Para Tris_Mara, a importância do projeto vai além da simples exposição. "Quando a gente não se vê, começamos a acreditar que não pertence", reflete. Essa afirmação revela uma verdade incômoda sobre o cenário competitivo - a ausência de representação feminina pode afastar potenciais talentos antes mesmo que eles tenham a chance de se desenvolver.

O programa adota uma abordagem multifacetada:

  • Transmissões quinzenais no Twitch e YouTube

  • Entrevistas com convidadas especiais

  • Cobertura desde torneios amadores até competições profissionais

  • Produção de conteúdos curtos para redes sociais

"É sobre construir um futuro onde meninas e mulheres olhem pra esse universo e saibam que tem espaço, tem palco e tem voz pra elas", afirma Tris_Mara com convicção. E essa construção passa necessariamente pela consistência - a streamer transmite tudo, desde os open qualifiers até as grandes finais internacionais.

Os desafios de ser pioneira

Assumir esse papel de liderança não vem sem seus desafios. Tris_Mara admite sentir "uma responsabilidade gigante", mas também um imenso orgulho. "Me sinto preparada pra continuar dando voz pro nosso cenário, com profissionalismo, responsabilidade e, principalmente, propósito", compartilha.

E esse propósito fica evidente na forma como ela aborda seu trabalho. Enquanto muitos se concentram apenas nos grandes eventos, Tris_Mara está lá também nos momentos menos glamourosos - os open qualifiers, as partidas sem transmissão oficial, os torneios sem patrocínio. "É exatamente nesses momentos que o cenário se constrói de verdade", defende.

O impacto além do jogo

O que torna o projeto de Tris_Mara particularmente relevante é seu potencial de influência além do mundo dos eSports. "Estamos criando referências", explica. "Quando meninas veem outras mulheres competindo, comentando e organizando eventos, isso muda completamente sua percepção do que é possível." E os números parecem confirmar essa tese - desde o lançamento do Na Mira Delas, a participação feminina em torneios amadores de CS:GO no Brasil aumentou em cerca de 40%.

Mas os desafios estruturais persistem. Tris_Mara não hesita em apontar as dificuldades: "Ainda existe muito preconceito velado, desde comentários nos chats até a descrença na capacidade técnica das jogadoras." Ela relata casos de organizadores que sequer respondem e-mails sobre a inclusão de times femininos em seus eventos, ou patrocinadores que questionam o retorno sobre investimento em equipes mistas.

Estratégias para mudança concreta

Diante desses obstáculos, Tris_Mara e sua equipe desenvolveram abordagens práticas para promover mudanças reais:

  • Parcerias com escolas e ONGs para oficinas de introdução aos eSports

  • Pressão organizada sobre ligas e torneios para inclusão de categorias femininas

  • Mentorias para jogadoras que desejam se profissionalizar

  • Produção de materiais educativos sobre assédio e conduta em ambientes competitivos

"Não adianta só reclamar", afirma Tris_Mara. "Temos que apresentar soluções e mostrar que há público, há talento e há interesse." Uma dessas soluções foi a criação de um selo de diversidade para eventos, que já foi adotado por três grandes torneios brasileiros. O selo atesta que o evento cumpre critérios mínimos de inclusão e fornece um ambiente seguro para todas as participantes.

O papel da comunidade e dos aliados

Um aspecto frequentemente negligenciado nesse tipo de discussão é o papel dos jogadores homens no processo de mudança. "Temos muitos aliados no cenário masculino", revela Tris_Mara. "Alguns dos nossos maiores apoiadores são jogadores profissionais que usam sua plataforma para amplificar nossa voz."

Ela cita exemplos como times que se recusam a participar de eventos sem categorias femininas, ou streamers que dedicam parte de sua programação para cobrir os jogos das equipes femininas. "Essa solidariedade é fundamental", reflete. "A mudança tem que vir de todos os lados."

Recentemente, o Na Mira Delas começou a produzir conteúdo educativo voltado especificamente para homens que desejam ser aliados ativos da causa. "Muitos querem ajudar, mas não sabem como", explica Tris_Mara. "Estamos criando guias práticos sobre como identificar e combater comportamentos tóxicos, como promover a inclusão no dia a dia e como usar privilégios para abrir portas."

Os próximos passos do movimento

Olhando para o futuro, Tris_Mara revela planos ambiciosos. "Queremos criar nossa própria liga", compartilha. "Não como um gueto separado, mas como um espaço de desenvolvimento para atletas que depois poderão competir em igualdade nas ligas principais."

Outro projeto em desenvolvimento é um banco de talentos que conecta jogadoras promissoras com organizações dispostas a investir. "Muitas meninas incríveis desistem porque não veem perspectiva", lamenta. "Queremos mostrar que há caminho e facilitar essas conexões."

Enquanto isso, o programa continua crescendo organicamente. A última transmissão bateu recorde de audiência, com mais de 5 mil espectadores simultâneos - número que coloca o Na Mira Delas entre os conteúdos mais assistidos sobre CS:GO feminino em língua portuguesa. "Isso prova que há demanda", comemora Tris_Mara. "As pessoas querem consumir esse conteúdo, só precisavam de um lugar para encontrá-lo."

Com informações do: Dust2