PF investiga fraude em recursos públicos para eventos de games
A Polícia Federal deflagrou a Operação Korban para apurar um esquema de desvio de cerca de R$ 13,2 milhões em emendas parlamentares destinadas a competições de e-sports no Distrito Federal e Espírito Santo. Os recursos, que deveriam financiar jogos estudantis entre 2023 e 2024, teriam sido direcionados para empresas de fachada ou sem capacidade de cumprir os contratos.
Como funcionava o esquema
Segundo as investigações, mais de 81% do orçamento total de R$ 15 milhões repassados à Associação Moriá teria sido desviado. A fraude estaria concentrada na execução dos contratos, com:
Uso de empresas sem estrutura adequada ou que sequer existiam
Falsificação de orçamentos e documentos
Subcontratações irregulares
A PF e a Controladoria-Geral da União (CGU) trabalham em conjunto para rastrear todo o fluxo do dinheiro público. Até o momento, não há parlamentares entre os investigados, mas a rede de beneficiários ainda está sendo mapeada.
Medidas judiciais e bloqueios
A operação, autorizada pelo ministro Flávio Dino no STF, resultou em:
16 mandados de busca e apreensão em quatro estados e no DF
Bloqueio de R$ 25 milhões em bens e contas bancárias
Suspensão de novos repasses à associação investigada
Proibição de transferências para empresas subcontratadas
O caso levanta questões sobre os mecanismos de controle para emendas parlamentares, especialmente em setores menos tradicionais como o dos e-sports. Enquanto o mercado de games cresce no Brasil, a falta de transparência na aplicação desses recursos públicos preocupa.
O impacto no cenário de e-sports brasileiro
O caso da Operação Korban surge em um momento de crescimento acelerado do mercado de e-sports no Brasil, que movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão em 2024. Especialistas temem que escândalos como esse possam:
Desacelerar investimentos públicos em competições amadoras
Criar resistência política a projetos legítimos na área
Manchar a reputação de organizadores sérios do setor
Curiosamente, o esquema foi descoberto durante auditorias de rotina da CGU, que identificaram discrepâncias nos relatórios de prestação de contas. Algumas das empresas listadas como prestadoras de serviço sequer tinham CNPJ ativo no período dos contratos.
Padrões recorrentes em fraudes com emendas
Analisando casos anteriores, a Controladoria-Geral da União identificou três padrões comuns que se repetem neste esquema:
Superfaturamento criativo: Itens como "transmissão digital" e "infraestrutura tecnológica" apareciam com valores até 300% acima do mercado
Geometria contratual: Rede complexa de subcontratações entre empresas com sócios cruzados
Documentação fictícia: Fotos de eventos que nunca ocorreram ou foram realizados em escala muito menor
Um detalhe que chamou atenção foi o uso de nomes de jogadores profissionais sem autorização em materiais de prestação de contas. Pelo menos 12 atletas afirmaram nunca ter participado dos eventos mencionados nos documentos.
Os desafios da regulamentação
O mercado de e-sports enfrenta uma peculiaridade regulatória: enquanto é reconhecido como modalidade esportiva pelo Ministério do Esporte, muitas competições são organizadas como eventos culturais. Essa dualidade cria brechas que facilitam:
Classificação variável para diferentes tipos de licitação
Falta de padrões claros para fiscalização
Dificuldade em avaliar a real execução dos projetos
Fontes do Ministério Público Federal indicam que as investigações devem se expandir para outros estados nos próximos meses. A estratégia inclui cruzar dados de emendas semelhantes aprovadas em diferentes legislaturas, buscando identificar padrões de desvio recorrentes.
Enquanto isso, organizadores sérios de torneios estudantis temem o efeito cascata. "Já está difícil conseguir patrocínio para eventos regionais. Um caso desses pode secar ainda mais os recursos", comenta um produtor de eventos de Minas Gerais que preferiu não se identificar.
Com informações do: www.cartacapital.com.br