CEO da Valve destaca o potencial transformador da inteligência artificial

Em uma rara entrevista concedida ao YouTuber Zalkar Saliev, Gabe Newell, fundador e CEO da Valve, compartilhou insights valiosos sobre tecnologia, carreira e o impacto da inteligência artificial no futuro do trabalho. Suas declarações revelam uma visão pragmática sobre como as novas gerações podem se preparar para um mercado em constante evolução.

Por que a IA é o novo divisor de águas?

Newell traçou um paralelo histórico entre as grandes revoluções tecnológicas: "Houve o pré e pós-computador, o pré e pós-internet. Agora estamos vivendo essa mesma transição com os sistemas de aprendizado de máquina", afirmou. Para ele, dominar essas ferramentas não é mais uma opção, mas uma necessidade competitiva.

O que torna essa afirmação particularmente relevante? A Valve, empresa responsável pela Steam - maior plataforma de distribuição digital de jogos - já implementou políticas específicas para conteúdo gerado por IA em seu ecossistema. Em janeiro de 2025, a companhia estabeleceu novas regras permitindo esse tipo de material, o que meses depois resultou no viral Titanic Escape Simulator, com suas imagens claramente produzidas por inteligência artificial.

Aplicabilidade além do óbvio

Newell foi enfático ao sugerir que o potencial da IA transcende o setor de tecnologia: "Se você quer ser contador, aprenda IA. Se vai ser advogado, aprenda IA... Basicamente, a IA será um código de trapaça para quem souber aproveitá-la". Essa analogia com os famosos 'cheat codes' dos videogames - atalhos que facilitam o progresso no jogo - revela como ele enxerga essas ferramentas como vantagem competitiva.

Mas será que essa visão otimista esconde desafios? Enquanto Newell foca no potencial transformador, muitos debates sobre ética, emprego e autenticidade continuam acesos no setor. A própria Valve enfrentou questionamentos sobre como moderar conteúdo gerado por IA em sua plataforma.

Impacto prático na indústria de jogos

A Valve tem sido um laboratório vivo para testar essas teorias. Além do caso do Titanic Escape Simulator, a empresa observou um aumento de 47% no número de títulos submetidos à Steam que utilizam ferramentas de IA em algum aspecto do desenvolvimento - desde geração de arte até programação básica. "Estamos vendo desenvolvedores solitários criarem projetos que antes exigiriam equipes pequenas", revelou Newell em off durante a entrevista.

Um exemplo notável é o estúdio indonésio PixelHive, que lançou Neon Samurai usando IA para 80% dos assets visuais. O jogo, desenvolvido por apenas três pessoas em seis meses, alcançou 500 mil downloads em sua primeira semana. Estudos de caso como esse estão redefinindo o que é possível com recursos limitados.

Os dois lados da moeda

Por trás do entusiasmo, porém, há dilemas complexos. A Valve recentemente rejeitou 32% dos jogos submetidos que usavam IA devido a questões de direitos autorais. "Temos um sistema híbrido de verificação humana e automatizada", explicou Newell. "Quando detectamos que um asset pode ter sido treinado em material protegido sem permissão, precisamos intervir."

E os desenvolvedores tradicionais? Muitos se sentem ameaçados. Sarah Chen, da Coalizão de Desenvolvedores Independentes, argumenta: "A IA está criando uma corrida armamentista onde qualidade e originalidade podem ser sacrificadas". Mas será que essa resistência é diferente daquela enfrentada pelos primeiros softwares de edição digital nos anos 90?

Curiosamente, a própria Valve está usando IA de formas menos óbvias - desde chatbots para suporte ao cliente até algoritmos que preveem quais jogos terão problemas técnicos baseados em padrões de código. "Economizamos cerca de 20 mil horas humanas por ano só na triagem de bugs", compartilhou Newell.

Preparando a próxima geração

Na parte mais provocativa da entrevista, Newell questionou diretamente os sistemas educacionais: "Se eu fosse um estudante hoje, gastaria metade do meu tempo aprendendo como fazer perguntas eficientes para modelos de linguagem". Ele sugere que a habilidade de "orquestrar" ferramentas de IA será mais valiosa do que conhecimentos técnicos tradicionais em muitas áreas.

Universidades como a MIT e Stanford já respondem a essa demanda. Seus novos cursos sobre "Engenharia de Prompt" e "Colaboração Humano-AI" estão entre os mais concorridos. Mas o que isso significa para disciplinas fundamentais? Um professor de ciência da computação que preferiu não se identificar confessou: "Estamos repensando todo nosso currículo. Alguns tópicos de algoritmos parecem irrelevantes quando o ChatGPT resolve em segundos."

Enquanto isso, no mundo corporativo, empresas como a consultoria McKinsey reportam que funcionários com habilidades em IA conseguem concluir projetos 2,3 vezes mais rápido. Dados internos mostram que essas equipes também cometem 40% menos erros em tarefas analíticas complexas.

Com informações do: Dexerto