Campanha de preservação de jogos sob ataque
A iniciativa Stop Killing Games está no centro de uma polêmica após uma denúncia anônima à Comissão Europeia acusar o movimento de violar as leis de transparência da União Europeia. As alegações sugerem que Ross Scott, criador da campanha mais ampla, teria prestado serviços profissionais não declarados à iniciativa oficial Stop Destroying Video Games.
Defesa contra as acusações
Scott nega veementemente as acusações. Embora tenha sido um dos principais promotores da causa, ele ressalta que não é membro formal da iniciativa e, legalmente, não poderia se filiar. Todo seu trabalho tem sido voluntário e não remunerado - situação que, segundo ele, está explicitamente isenta de exigências de transparência pelas regras da UE.
A denúncia estima que Scott teria contribuído com o equivalente a €63.000 a €147.000 em trabalho, baseando-se em cálculos de horas supostamente inflados. O criador da campanha rebate esses números e cita documentação da UE que isenta voluntários individuais de obrigações financeiras.
Possível motivação política
Scott revelou que a iniciativa já havia consultado autoridades europeias sobre seu envolvimento no início de 2024, sem que qualquer problema fosse identificado na época. Ele suspeita que a denúncia atual faça parte de um esforço coordenado para minar a campanha, possivelmente ligado a declarações recentes de grupos de lobby da indústria, como a Video Games Europe.
"Quando você compra uma cópia de um jogo, deveria ter o direito de mantê-lo", argumenta Scott. "As publicadoras não deveriam poder destruir o que você já pagou."
Apesar das controvérsias, o apoio à Stop Killing Games continua crescendo. Membros do Parlamento Europeu, incluindo o vice-presidente Nicolae Ștefănuță, já manifestaram apoio à causa. Scott incentiva os apoiadores a manterem a pressão entrando em contato com seus representantes.
Impacto na indústria de jogos
A campanha Stop Killing Games levantou questões fundamentais sobre a preservação digital na indústria de jogos. Com a crescente tendência de jogos como serviço (GaaS) e títulos sempre online, muitos jogadores estão descobrindo que produtos que pagaram podem simplesmente desaparecer quando os servidores são desligados. Isso aconteceu recentemente com títulos como The Crew da Ubisoft, que deixou milhares de jogadores sem acesso a um jogo que haviam comprado.
"É uma questão de direitos do consumidor," explica Scott em entrevista recente. "Imagine comprar um livro e, anos depois, a editora invadir sua casa para queimá-lo porque decidiu não imprimi-lo mais." A analogia pode parecer extrema, mas reflete a frustração de muitos jogadores.
Resposta das publicadoras
Enquanto isso, as principais publicadoras mantêm silêncio sobre o assunto. Fontes próximas à Video Games Europe sugerem que o grupo está monitorando a situação, mas considera a campanha uma "ameaça menor" aos modelos de negócios estabelecidos. No entanto, documentos internos vazados mostram que algumas empresas estão revisando seus termos de serviço para incluir cláusulas mais explícitas sobre a natureza temporária do acesso aos jogos.
Curiosamente, nem toda a indústria se opõe à campanha. Alguns desenvolvedores independentes já adotaram políticas de "jogos para sempre", garantindo que mesmo seus títulos online continuarão jogáveis em modo offline quando os servidores forem desativados. "É uma questão de respeito ao jogador," comenta um desenvolvedor que preferiu não se identificar.
Próximos passos legais
A Comissão Europeia ainda não se pronunciou oficialmente sobre a denúncia anônima, mas fontes sugerem que o caso pode levar meses para ser resolvido. Enquanto isso, a Stop Killing Games está coletando assinaturas para uma petição que será apresentada ao Parlamento Europeu no segundo semestre de 2024.
Scott revelou que a campanha está preparando um "kit de ferramentas jurídicas" para ajudar jogadores em diferentes países a contestar o desligamento de servidores com base nas leis de proteção ao consumidor locais. "Muitas pessoas não sabem que já existem leis que poderiam proteger seus direitos," ele explica. "Estamos apenas tentando mostrar como aplicá-las."
O debate também está ganhando atenção além da Europa. Nos Estados Unidos, um grupo de advogados especializados em direito digital está analisando possíveis ações coletivas contra publicadoras que desativam jogos sem oferecer alternativas aos compradores. Enquanto isso, no Japão, uma proposta legislativa controversa poderia obrigar as empresas a manter servidores abertos por pelo menos cinco anos após o lançamento.
Com informações do: Dexerto