O capitão da Astralis, Rasmus "HooXi" Nielsen, não está particularmente impressionado com a provável classificação de sua equipe para o Major de CS:GO. Em entrevista exclusiva após a vitória sobre a GamerLegion no FISSURE Playground 2, o dinamarquês expressou opiniões contundentes sobre o sistema competitivo atual e as desafios que equipes menores enfrentam.
O sistema de classificação e a vantagem das equipes de elite
"Para mim, é óbvio que deveríamos estar lá", disse HooXi quando questionado sobre como se sentia ao levar a Astralis de volta ao Major após um período conturbado. Mas sua resposta surpreendeu: "Não estou tão orgulhoso. Honestamente, para mim é algo esperado que devêssemos estar lá".
O que parece arrogância à primeira vista revela-se uma crítica fundamentada ao sistema de pontuação VRS. HooXi argumenta que o formato atual beneficia desproporcionalmente as equipes de tier one, enquanto as formações menores precisam se desgastar em viagens intermináveis pelo mundo todo apenas para acumular pontos suficientes.
"O sistema não é justo atualmente, e é por isso que eu esperava que passássemos", explicou. "As equipes de tier dois têm dificuldades, sabem? Precisam viajar por todo o mundo, para um país diferente a cada semana, apenas para juntar alguns pontos."
Adaptações pós-troca de roster e novo papel de HooXi
A Astralis passou por mudanças significativas recentemente com a saída de Martin "stavn" Lund e a chegada de Emil "Magisk" Reif. Essa transição forçou HooXi a assumir posições mais ativas dentro do jogo, algo que paradoxalmente melhorou seu desempenho individual.
"Conseguimos posições muito melhores agora que o Magisk entrou, principalmente porque precisávamos de mais iniciativa e comunicação nessas posições centrais", explicou HooXi. "Isso obviamente faz suas estatísticas parecerem melhores também."
O IGL admitiu que em sua passagem pela G2, ele tendia a "sobrecompensar" e sacrificar demais seu próprio jogo pela equipe, algo que reconhece ter prejudicado o coletivo no final das contas. "Sempre penso no que é melhor para a equipe, mas acho que estava fazendo isso demais na G2, e isso estava prejudicando a equipe no final."
Os LANs abertos e o custo para equipes menores
Sobre a proliferação de LANs abertos que surgiram próximo ao prazo de convites para o Major, HooXi expressou sentimentos contraditórios. Por um lado, valoriza a oportunidade para equipes menores jogarem em cenários presenciais, mas questiona a sustentabilidade financeira desse modelo.
"Gosto do fato de equipes e organizações menores poderem ir para LANs, porque isso é obviamente legal. Gostaria de ter feito isso em vez de toda a rotina online", confessou. "Mas, ao mesmo tempo, acho muito difícil ter uma organização nesse nível atualmente, porque há muitas despesas."
HooXi admitiu não ser um especialista no aspecto financeiro, mas demonstrou empatia pelas organizações que precisam bancar custos de viagem constantes para competir em torneios menores espalhados pelo globo.
Olhando para os playoffs e além
Apesar do desempenho irregular na fase de grupos, HooXi vê valor nas adversidades enfrentadas pela Astralis. "Não foi bonito, mas às vezes isso também é algo positivo", refletiu. "Somos capazes de fazer comeback, temos a mentalidade certa para nunca desistir."
Para os playoffs, o IGL mantém sua filosofia característica de valorizar o processo acima dos resultados imediatos. "Quando se trata de resultados, não me importo muito com eles. Me importo mais com o fato de trazermos energia, jogarmos da maneira que conversamos, da maneira que praticamos, e que possamos realmente ver algum progresso."
A equipe agora se prepara para enfrentar o desafio dos playoffs em Belgrado, carregando não apenas a expectativa de resultados, mas também as críticas de seu líder sobre a estrutura competitiva atual do CS:GO.
O impacto psicológico das viagens constantes
Quando você para pra pensar, o desgaste vai muito além do financeiro. Imagine passar mais tempo em aeroportos e hotéis do que em casa, treinando em setups improvisados e tentando manter o foco enquanto seu relógio biológico fica completamente bagunçado. HooXi tocou num ponto crucial aqui - como isso afeta o desempenho dessas equipes?
"Já vi times talentosos perderem potencial porque simplesmente não aguentavam o ritmo", comentou um observador do cenário que preferiu não se identificar. "Eles chegam exaustos nos torneios principais, enquanto os times estabelecidos podem se dar ao luxo de escolher onde e quando competir."
E não é só cansaço físico. O estresse mental de constantes deslocamentos, a saudade de casa, a dificuldade de manter rotinas de treino consistentes - tudo isso se acumula. Muitas promessas do tier dois simplesmente não conseguem render seu máximo nessas condições.
A perspectiva das organizações menores
Conversando com managers de algumas dessas organizações menores, descobri que a situação é ainda mais complicada do que parece. "Cada viagem internacional pode consumir até 30% do nosso orçamento mensal", compartilhou o manager de uma equipe europeia. "E se não formos, perdemos pontos. Se formos e não performarmos bem, perdemos dinheiro e pontos. É um catch-22."
O que mais me surpreendeu foi aprender que muitas dessas organizações operam no vermelho intencionalmente durante períodos de classificação para Majors, na esperança de que uma eventual classificação traga retorno financeiro através de premiações e patrocínios. É basicamente uma aposta alta com o futuro da organização em jogo.
E quando perguntei sobre o suporte das desenvolvedoras do jogo e das ligas, a resposta foi unânime: "Poderia ser melhor". Há um sentimento generalizado de que o ecossistema privilegia demais os grandes nomes, deixando as equipes em desenvolvimento lutando por migalhas.
O paradoxo da exposição versus sustentabilidade
Aqui está uma ironia interessante: quanto mais uma equipe do tier dois se destaca, mais convites para torneios menores recebe - e mais precisa viajar. "É como se sucesso gerasse mais pressão financeira", observou HooXi durante nossa conversa. "Você fica preso num ciclo onde precisa gastar mais para manter sua posição no ranking."
Conheci uma organização que recusou três convites para torneios internacionais num único mês porque simplesmente não tinha condições de bancar as passagens. E adivinhem? No mês seguinte, sua pontuação caiu drasticamente por falta de atividade. O sistema praticamente pune times que não têm capital para competir constantemente.
O que me faz pensar: será que não existem modelos alternativos? Talvez torneios regionais com melhor pontuação, ou um sistema de subsídios de viagem para equipes com menor poder financeiro? A discussão parece estar apenas começando.
O lado humano por trás das estatísticas
Por trás de todas essas discussões sobre sistemas e finanças, tem uma realidade humana que muitas vezes é esquecida. Jogadores jovens, alguns ainda adolescentes, passando semanas longe de casa, com pressão enorme para performar enquanto lidam com jet lag e comidas estranhas.
HooXi mencionou algo que ressoou comigo: "Na G2, eu via como os jogadores mais novos sofriam com a adaptação às viagens constantes. Não é só sobre jogar bem, é sobre sobreviver à rotina".
E não são apenas os jogadores. Os coaches, analysts e staff de apoio também enfrentam esses desafios, muitas vezes com salários bem menores que os dos profissionais das grandes organizações. É todo um ecossistema de pessoas tentando sobreviver num sistema que parece fazer pouco caso de seu bem-estar.
Um psicólogo esportivo que trabalha com várias equipes me contou que casos de burnout e ansiedade são significativamente mais comuns entre jogadores do tier dois. "Eles têm todas as pressões dos profissionais estabelecidos, mas com nenhuma das comodidades ou suporte", explicou. "É uma receita para problemas de saúde mental."
O que pode ser feito?
Algumas organizações menores estão começando a se unir para discutir soluções coletivas. Há conversas sobre criar associações que possam negociar melhores condições em bloco, ou até mesmo organizar seus próprios circuitos regionais com custos controlados.
"Precisamos de mais transparência sobre como os pontos são distribuídos", defende o manager de uma equipe sul-americana. "E de mais oportunidades regionais que não exijam voos intercontinentais toda semana."
Curiosamente, até alguns times grandes começaram a reconhecer o problema. Afinal, um ecossistema saudável precisa de uma base sólida de equipes em desenvolvimento - são dessas fileiras que surgem os próximos astros do esporte.
Mas como bem pontuou HooXi, mudanças sistêmicas levam tempo. Enquanto isso, equipes como a Astralis seguem navegando nesse mar complicado, tentando encontrar equilíbrio entre competir no mais alto nível e reconhecer as imperfeições do sistema que os sustenta.
O que me pergunto é: quantos talentos fantásticos estamos perdendo porque simplesmente não conseguem bancar a entrada nesse circuito? Quantos "próximos ZywOos" estão desistindo porque cansam de viver malas e mais malas enquanto tentam alcançar o sonho de competir no mais alto nível?
Com informações do: HLTV
