O cenário competitivo de VALORANT na EMEA viveu um momento significativo no último sábado (22), quando dois dos nomes mais conhecidos do Brasil viram suas temporadas chegarem ao fim prematuramente. Matias "Saadhak" Delipetro e Felipe "Less" Basso, ex-companheiros na LOUD e campeões mundiais em 2022, foram eliminados dos playoffs do VCT EMEA Stage 2 com suas respectivas equipes.

As eliminações que encerraram as esperanças

A Karmine Corp de Saadhak não conseguiu superar a poderosa Fnatic, enquanto a Team Vitality de Less caiu diante da NAVI. O que torna essas eliminações particularmente duras é que ambas as equipes já estavam na chave inferior dos playoffs após terminarem na quarta posição de seus grupos – uma colocação que deixava pouco margem para erro.

Com essas derrotas, Vitality e Karmine Corp ficaram oficialmente fora do VALORANT Champions 2025, o campeonato mundial que define o ápice da temporada. Para dois jogadores acostumados a competir nos maiores palcos, essa ausência representa uma virada significativa em suas trajetórias.

Trajetórias distintas em 2025

Analisando as temporadas de ambos, é interessante notar como seus caminhos divergiram após deixarem a LOUD. Less, contratado pela Vitality em outubro de 2024, viveu momentos mais altos: conquistou o título do VCT EMEA Kickoff 2025, alcançou a quarta colocação no Masters Bangkok e terminou entre o 7º e 8º lugar no EMEA Stage 1.

Já Saadhak, que chegou à Karmine Corp em novembro de 2024, enfrentou uma temporada mais desafiadora. Sua campanha no VCT EMEA foi irregular, alternando entre resultados medianos e abaixo do esperado. Apesar disso, conseguiu classificar a equipe para a EWC VALORANT - Esports World Cup 2025, onde terminaram na sexta posição – um feito notável considerando as dificuldades anteriores.

O futuro incerto de Saadhak

O contexto contratual adiciona outra camada à situação. Enquanto Less tem contrato com a Vitality até o final de 2026, dando-lhe certa estabilidade, Saadhak enfrenta um futuro mais incerto. Seu contrato com a Karmine Corp termina no fim deste ano, o que significa que poderá se tornar free agent na próxima janela de transferências caso não renove.

Essa possibilidade levanta questionamentos interessantes sobre o mercado de transferências. Um jogador com o currículo de Saadhak – campeão mundial e conhecido por suas habilidades de liderança e calling – certamente despertará interesse de várias organizações. Resta saber se a Karmine Corp buscará mantê-lo ou se ele buscará novos ares após uma temporada abaixo das expectativas.

O que me surpreende é como o cenário competitivo muda rapidamente. Há menos de dois anos, Less e Saadhak levantavam o troféu de campeões mundiais juntos. Hoje, encontram-se em equipes diferentes, ambas eliminadas do circuito principal. Isso mostra como a competitividade no VALORANT profissional se intensificou, com mais equipes capazes de desafiar as antigas potências.

Para os fãs brasileiros, a ausência de ambos no Champions 2025 será particularmente sentida. A dupla era parte fundamental da era de domínio brasileiro no cenário internacional, e ver dois de nossos melhores jogadores fora do maior torneio do ano certamente deixa uma lacuna.

O impacto das mudanças no meta do jogo

Um aspecto que não pode ser ignorado é como as constantes mudanças no meta do VALORANT afetaram o desempenho de ambas as equipes. Desde o início de 2025, a Riot Games introduziu várias alterações significativas nos agentes e mecânicas do jogo, forçando times a se adaptarem rapidamente.

Na minha opinião, a Vitality pareceu ter mais dificuldade em se ajustar às novas dinâmicas. Less, conhecido por seu estilo agressivo e preciso, muitas vezes se viu em situações onde o meta favorecia um jogo mais tático e menos dependente de duelos individuais. Não é que ele tenha perdido sua habilidade – longe disso – mas o jogo evoluiu de uma forma que exigia diferentes abordagens.

Já a Karmine Corp, sob a liderança de Saadhak, mostrou flashes de brilho tático, especialmente durante a Esports World Cup. No entanto, a consistência foi o grande problema. Em algumas partidas, pareciam uma das melhores equipes da região; em outras, cometiam erros básicos que você não esperaria de uma organização com tanto investimento.

O que me chamou atenção foi como outras equipes da EMEA se adaptaram mais rapidamente. A Fnatic, por exemplo, parece ter encontrado uma fórmula que funciona quase perfeitamente para o meta atual, enquanto times como a NAVI desenvolveram estilos únicos que exploram as fraquezas dos adversários.

O fator psicológico e a pressão das expectativas

Não podemos subestimar o peso psicológico que jogadores como Saadhak e Less carregam. Quando você é campeão mundial, as expectativas mudam completamente. Cada derrota é amplificada, cada erro é analisado minuciosamente pela comunidade.

Less, apesar de jovem, já acumula uma bagagem impressionante – mas também uma pressão enorme. Contratado por uma organização europeia de primeiro escalão, era esperado que ele fosse uma peça fundamental para o sucesso da Vitality. E em muitos momentos, ele foi. Mas o VALORANT competitivo moderno é um esporte de equipe, onde o desempenho individual, por mais brilhante que seja, nem sempre é suficiente.

Saadhak, por outro lado, sempre foi reconhecido por suas qualidades de liderança tanto quanto por sua habilidade mecânica. Mas liderar uma equipe em transição, com jogadores de diferentes nacionalidades e estilos, apresenta desafios únicos. Às vezes me pergunto se a barreira linguística ou cultural pode ter impactado mais do que imaginamos na comunicação durante as partidas mais tensas.

É fascinante – e um pouco cruel – como o cenário competitivo pode testar até mesmo os mentalidades mais fortes. Ambos os jogadores demonstraram resiliência ao longo de suas carreiras, mas 2025 parece ter sido um ano particularmente desafiador nesse aspecto.

As implicações para o mercado de transferências

Com a eliminação precoce, começam os especulações sobre o futuro não apenas de Saadhak e Less, mas de suas equipes como um todo. A janela de transferências que se aproxima promete ser uma das mais movimentadas dos últimos tempos, especialmente com a entrada de novas organizações no cenário.

Para a Karmine Corp, a decisão sobre o futuro de Saadhak será crucial. Manter um jogador de seu calibre representa um voto de confiança e a aposta em que, com as peças certas ao seu redor, ele pode liderar a equipe de volta ao topo. Mas também há o risco de ficar preso a um projeto que, até agora, não atingiu seu potencial máximo.

Já a Vitality tem Less contratado até 2026, o que dá à organização tempo para reconstruir ao seu redor. A pergunta que fica é: eles buscarão trazer mais jogadores que complementem seu estilo agressivo, ou tentarão adaptá-lo a um sistema diferente?

O que observo no cenário atual é uma valorização cada vez maior de jogadores flexíveis, capazes de desempenhar múltiplas funções e se adaptar a diferentes composições. Tanto Less quanto Saadhak possuem essas características, o que os mantém como nomes valiosos mesmo após uma temporada irregular.

E não podemos esquecer o fator financeiro. Com o crescimento do esporte, os contratos tornaram-se significativamente mais complexos. Cláusulas de rescisão, bônus por desempenho, acordos de image rights – tudo isso influencia nas decisões tanto dos jogadores quanto das organizações.

O panorama competitivo da EMEA em transformação

As eliminações de Vitality e Karmine Corp refletem uma mudança mais ampla no cenário competitivo da EMEA. A região, que antes era dominada por algumas poucas potências, tornou-se incrivelmente equilibrada. Times que eram considerados underdogs há apenas um ano agora desafiam consistentemente os favoritos.

Esta democratização do talento é, de certa forma, positiva para a saúde competitiva da região, mas cria um ambiente brutalmente imprevisível. Uma equipe pode vencer um torneio major e ser eliminada na fase de grupos do seguinte – como vimos acontecer com várias organizações ao longo de 2025.

Para jogadores brasileiros atuando na Europa, como Less e Saadhak, isso adiciona uma camada extra de desafio. Eles não apenas precisam se adaptar a um novo estilo de jogo e cultura competitiva, mas também a uma dinâmica regional que muda quase mensalmente.

O que me preocupa é que essa volatilidade pode desencorajar organizações a investirem em projetos de longo prazo. Quando o sucesso é tão imprevisível, a tentação de fazer mudanças radicais após cada resultado negativo aumenta consideravelmente. E, como sabemos, constantes mudanças de elenco raramente levam à construção de sinergia consistente.

Olhando para o futuro, a pergunta que fica é como Saadhak e Less se reposicionarão após essa temporada. Eles buscarão reinventar seus estilos de jogo? Mudarão para outras organizações? Ou usarão essa experiência como combustível para voltarem mais fortes em 2026?

Com informações do: THESPIKE