Uma nova função para um velho sonho
Gabriel "FalleN" Toledo está vivendo um momento único em sua carreira. Aos 34 anos, o bicampeão mundial de CS:GO disputa seu 17º Major, mas pela primeira vez não como sniper principal. A mudança para rifler veio de uma decisão difícil, mas motivada por um objetivo claro: voltar a ser campeão.
"Tenho tentado viver novos tempos áureos já faz alguns anos, de todos os jeitos possíveis", confessou FalleN em entrevista à Dust2 Brasil. "A minha entrada na FURIA foi para jogar com yuurih e KSCERATO, que considero uns dos melhores jogadores que o Brasil tem. Mas o caminho que eu estava seguindo não estava dando certo, então por que não tentar algo diferente?"
O sacrifício pelo time
A transição não tem sido fácil. FalleN admite que seus números individuais podem não impressionar, mas explica que está priorizando o sucesso coletivo:
"Tem diversos rounds que estou dropando arma para que alguma play de impacto aconteça. O que eu mais me importo é que a equipe vença. Se eu sair com a vitória, o 3/20 não me importa", disse com a convicção de quem já viveu tudo no cenário competitivo.
Essa mentalidade de sacrifício pelo time não é nova para o veterano. Ele revela que mesmo como sniper, nos últimos anos já vinha adotando um estilo mais generoso:
"Muitas vezes fiz concessões até para a minha role de sniper para que coisas no time acontecessem da maneira que acho corretas. Em excesso, isso atrapalha o sniper porque ele precisa ser um pouco individualista. Agora como rifler, consigo usar melhor esse meu atributo de tentar fazer a equipe rodar bem."
Resiliência e classificação
A FURIA garantiu vaga no Stage 3 do Major após uma vitória dramática contra a B8. Depois de um vexame na Mirage (13-3), a equipe brasileira se recuperou para vencer Train e Dust2 de forma convincente.
"A sensação pós primeiro mapa era um pouco de anestesia. Se fosse MMA, nós já estaríamos meio que no chão, grogues", comparou FalleN. "É nessas horas que quem tem experiência precisa saber a direção de onde olhar. Chamei a galera para reenergizar, colocar a cabeça onde ela precisa estar."
O capitão destacou a importância da comunicação e da coragem nos mapas seguintes, onde a equipe mostrou seu verdadeiro potencial. Uma demonstração de maturidade que só jogadores como FalleN conseguem transmitir em momentos decisivos.
A magia dos Majors
Agora, a FURIA enfrentará os melhores times do mundo. FalleN acredita que a equipe pode repetir ou superar o desempenho do top 4 na PGL Astana, mas sabe que o desafio será maior.
"Temos potencial e um time muito forte", afirmou. "O Major traz essa mágica de que é possível vencer. Quantas vezes não vimos times que você não imaginava que chegaria tão longe vencendo um Major?"
O veterano também comemorou o bom desempenho dos times brasileiros no torneio, com Legacy e paiN também garantidas no Stage 3. Para FalleN, isso mostra a força do cenário nacional, mesmo em um momento de transição e renovação.
"Temos que acreditar no trabalho do dia a dia, concentrar, preparar e entrar bem nos jogos", finalizou o jogador, deixando claro que, independentemente da função que ocupa, seu objetivo final continua o mesmo: erguer mais um troféu de Major.
O peso da liderança dentro e fora do jogo
Além da adaptação técnica, FalleN enfrenta o desafio de equilibrar sua nova função com a liderança que sempre exerceu. Ele explica como isso se reflete nas dinâmicas de comunicação durante as partidas:
"Como rifler, consigo ler melhor o jogo e dar calls mais precisas. Antes, quando estava com o AWP, muitas vezes ficava isolado em posições de sniper. Agora estou mais inserido no fluxo do time, o que me permite sentir melhor quando precisamos acelerar ou segurar o ritmo."
Essa mudança de perspectiva trouxe insights valiosos para o time. yuurih, que assumiu a posição principal de sniper, revelou em entrevista separada como a experiência de FalleN tem sido crucial: "Ele me mostra ângulos que eu nunca tinha considerado. Às vezes um simples ajuste de posicionamento que ele sugere muda completamente minha eficiência com o AWP."
Os bastidores da preparação
Nos treinos, a dedicação de FalleN à nova função impressiona. Relatos da equipe técnica indicam que ele chega a passar horas extras estudando demos de riflers como NiKo e Twistzz, adaptando elementos de seus estilos ao seu próprio repertório.
"Não se trata apenas de mudar de arma", explica o analista da FURIA. "É todo um mindset diferente. Como rifler, você precisa estar preparado para situações mais variadas a cada round. O FalleN está reconstruindo sua mecânica de movimento, seus reflexos em close combat, até mesmo sua economia de utilidades."
Um detalhe curioso: nas sessões de treino, FalleN tem insistido em praticar com rifles menos populares como o Galil e o FAMAS. "Quero estar preparado para qualquer cenário econômico", justificou. Essa abordagem meticulosa lembra seus primeiros anos como jogador profissional, quando ficou conhecido por sua obsessão com detalhes.
A resposta da comunidade
Nas redes sociais, a transformação de FalleN divide opiniões. Enquanto alguns torcedores elogiam sua versatilidade, outros questionam se a mudança não chega tarde demais. O próprio jogador parece alheio a essas discussões:
"Já provei tudo que tinha que provar como sniper. Agora quero provar que posso ser um jogador completo. Se alguém duvida, é só assistir nossos jogos e tirar suas próprias conclusões."
Estatisticamente, os números mostram uma evolução gradual. Nas últimas partidas, seu rating HLTV vem subindo consistentemente, especialmente em mapas como Inferno e Overpass, onde sua experiência estratégica brilha.
O legado em construção
Mais do que uma mudança de função, essa fase representa um novo capítulo na história de um dos maiores nomes do CS brasileiro. FalleN já influenciou gerações como sniper; agora tem a chance de mostrar que grandeza no cenário competitivo vai além de especializações.
"Quando eu comecei, o CS era muito diferente. Não existia esse conceito de roles tão rígidos", reflete. "Voltar a ser um jogador mais completo me faz sentir aquela mesma paixão dos primeiros anos. É desafiador, mas ao mesmo tempo renovador."
Enquanto isso, nos bastidores do torneio, outros veteranos observam com interesse essa reinvenção. Alguns já especulam que, se bem-sucedida, a transição de FalleN pode inspirar outros jogadores a repensarem seus papéis no jogo moderno.
Para a FURIA, ter um jogador com sua experiência assumindo um papel de suporte tático tem sido um diferencial. O técnico da equipe destaca: "Ele traz uma visão macro que poucos possuem. Mesmo quando não está no topo do scoreboard, sua influência nas decisões coletivas é imensurável."
Com informações do: Dust2