Franco "dgt" Garcia, jogador argentino da paiN Gaming, abriu o jogo sobre seu processo de adaptação ao time brasileiro e destacou a necessidade de melhorar a sinergia coletiva. Em entrevista após a classificação para os playoffs da FISSURE Playground 2, o lurker compartilhou insights valiosos sobre os desafios de integrar um novo elenco e a evolução gradual da equipe.
O caminho para a classificação e a sensação de tranquilidade
Apesar do placar apertado de 2-1 contra a VP, dgt revelou que a partida foi mais tranquila do que aparentou. "No primeiro mapa, nosso CT na Dust2 melhorou bastante, trocamos algumas posições. Estamos jogando melhor e hoje foi um pouco a prova disso", explicou o jogador.
Ele admitiu, no entanto, que alguns erros básicos ainda persistem: "Mirage acho que é um mapa que estamos jogando muito bem, mas acho que estamos perdendo muitos forçados, e isso está atrapalhando um pouco nossa economia". Esses pequenos deslizes, segundo ele, complicam o jogo da equipe, mas são problemas corrigíveis com o tempo.
Adaptação e diferenças culturais
Quatro meses após sua contratação, dgt confessa que ainda não está 100% adaptado. A transição da 9z para a paiN representou mais do que uma simples mudança de organização - foi uma revolução em seu estilo de jogo.
"É uma busca, porque eu joguei seis anos na 9z e joguei toda minha vida com o Max, e ele entendia muito o que eu precisava", compartilhou dgt. A função de lurker, que ele exerce na paiN, demanda uma sintonia quase telepática com os companheiros, algo que leva tempo para ser construído.
A barreira linguística, inicialmente um obstáculo, parece estar superada. "A língua hoje não é um problema para mim, mas até menos de um mês atrás eu sentia que os caras só ficavam gritando e eu não entendia nada", revelou com honestidade. Essa transparência sobre as dificuldades iniciais mostra o lado humano por trás dos profissionais.
A importância da classificação e os desafios futuros
Para dgt, classificar-se para os playoffs representou mais do que uma conquista coletiva - foi uma vitória pessoal. "Para mim, pessoalmente, foi muito importante. Estes campeonatos foram bem difíceis para mim, no Major eu joguei bem mas não me sentia bem dentro do time, não conseguia ter meu espaço", confessou.
O jogador identificou o ponto crucial que precisa melhorar: o verdadeiro trabalho em equipe. "Às vezes esquecemos um pouco de ajudar o outro, de jogar como um time", admitiu. Ele citou um exemplo específico: "Teve um round hoje na Inferno que matamos dois no tapete e eu falei para o David bangar para mim e chamar dois no meio. Isso é um time que está sempre se apoiando e se ajudando".
Essa falta de coesão momentânea, segundo dgt, será superada com o tempo e a convivência. A confiança nesse processo evolutivo é evidente em suas palavras.
Objetivos ambiciosos e aprendizado contínuo
dgt não esconde suas ambições: "O mais importante na vida é ganhar campeonatos. Eu entrei nesse time para ganhar campeonatos". No entanto, ele reconhece que ainda está em fase de aprendizagem, especialmente quando se trata de atuar em grandes arenas.
"O que mais busco é me sentir melhor na arena, porque ainda não tenho experiência ainda em arenas", admitiu. Essa honestidade sobre suas limitações atuais contrasta com a confiança no potencial futuro da equipe.
A paiN enfrentará a Falcons nas quartas de final, um desafio que testará não apenas a habilidade individual, mas principalmente a capacidade de jogar como uma unidade coesa - exatamente o aspecto que dgt identificou como crucial para o sucesso.
O papel da comunicação e a evolução tática
Um aspecto que dgt destacou, mas que merece mais aprofundamento, é como a comunicação em português afeta não apenas o entendimento, mas toda a estrutura tática da equipe. Quando ele mencionou que "os caras só ficavam gritando e eu não entendia nada", isso vai muito além de uma simples barreira linguística.
No Counter-Strike, cada chamada precisa ser precisa, concisa e imediatamente compreensível. Um segundo de hesitação pode custar o round. E não se trata apenas de entender as palavras, mas de captar a entonação, a urgência e até o contexto cultural por trás de cada expressão.
O que me surpreende é como essa adaptação vai além do vocabulário do jogo. São as gírias específicas de cada região, as expressões que surgem naturalmente durante a tensão competitiva e até mesmo o humor brasileiro que, quando bem compreendido, pode aliviar a pressão nos momentos críticos.
A construção da confiança além do servidor
dgt tocou em um ponto crucial quando falou sobre jogar seis anos com Max e a sintonia quase intuitiva que desenvolveram. Essa relação não se constrói apenas durante as partidas oficiais ou nos treinos. Ela nasce nos momentos entre os jogos, nas conversas fora do jogo, até mesmo nas refeições compartilhadas.
Imagine a complexidade: um argentino se integrando a um time brasileiro, com toda a rivalidade histórica entre os dois países no futebol transformada em potencial vantagem no CS. Essa dinâmica pode ser either uma barreira intransponível ou uma oportunidade única para criar algo especial.
O que observo é que a paiN está tentando transformar essa diferença cultural em uma força. As distintas perspectivas de jogo, as experiências variadas e até as diferentes escolas de Counter-Strike podem, quando bem canalizadas, criar um estilo único e imprevisível.
Os detalhes que fazem a diferença na economia do jogo
Quando dgt mencionou os problemas com rounds forçados em Mirage, ele estava apontando para uma das áreas mais subestimadas do jogo profissional: a gestão econômica. Não são apenas números em uma tela - são decisões que ecoam por múltiplos rounds.
Cada compra mal calculada, cada save mal executado, cria um efeito dominó que pode comprometer toda a half. E o pior: esses erros muitas vezes passam despercebidos pelo público, mas são extremamente visíveis para os analistas e, claro, para os próprios jogadores.
O interessante é que esses problemas econômicos frequentemente refletem falhas de comunicação ou falta de sincronia. Quando um jogador decide comprar enquanto outro economiza, isso revela uma desconexão nas decisões coletivas. São nessas microdecisões que a verdadeira sinergia de time é testada.
O desafio psicológico das arenas e a pressão das grandes etapas
A honestidade de dgt sobre sua falta de experiência em arenas é refrescante em um cenário onde muitos jogadores tentam projetar confiança absoluta. Mas vamos além: jogar em arena não é apenas sobre lidar com a multidão ou as câmeras.
É sobre administrar a adrenalina, controlar a ansiedade e manter a clareza mental quando milhares de pessoas estão torcendo contra você. E para um jogador que está ainda se adaptando a um novo time, esse desafio é exponencialmente maior.
Os headphones podem abafar o som da multidão, mas não podem bloquear a pressão psicológica. E quando você está jogando com companheiros com os quais ainda não desenvolveu total confiança, essa pressão pode se manifestar em decisões hesitantes ou comunicações truncadas.
A preparação para a Falcons e a importância do scrim
Falando no próximo desafio contra a Falcons, me pergunto como a paiN está se preparando para enfrentar uma equipe com tanto firepower individual. Não se trata apenas de estudar demos ou desenvolver estratégias específicas.
Os scrims (partidas treino) tornam-se laboratórios onde não apenas testam estratégias, mas praticam exatamente aquilo que dgt identificou como crucial: a ajuda mútua, o apoio constante e a tomada de decisão coletiva.
É durante esses treinos que eles podem cometer erros, experimentar approaches diferentes e, principalmente, desenvolver aquela "sexto sentido" que permite antecipar o que o companheiro vai fazer. E considerando que a Falcons é conhecida por seu jogo agressivo e imprevisível, essa coesão será posta à prova imediatamente.
Outro aspecto interessante é como dgt, vindo de uma equipe argentina, se adapta ao estilo brasileiro de jogo. Existe realmente uma "escola" brasileira de Counter-Strike? Muitos analistas argumentam que sim - caracterizada por uma certa criatividade, agressividade calculada e uma tendência a plays improvisadas.
Já a tradição argentina, influenciada por years de competição internacional mas com recursos mais limitados, often desenvolve um estilo mais metódico e fundamentally sólido. A fusão dessas duas approaches poderia criar algo realmente único no cenário.
O que mais me chama atenção na jornada de dgt é que ele não está apenas aprendendo a jogar com novos companheiros - está aprendendo a jogar de uma maneira completamente nova. E isso requer humildade para desaprender certos hábitos e coragem para abraçar novas approaches.
Não é sobre abandonar sua identidade como jogador, mas sobre expandi-la para incorporar as strengths de seus novos teammates. Essa evolução não acontece da noite para o dia, mas cada partida, cada scrim, cada discussão pós-jogo contribui para esse processo.
E quando ele fala sobre "jogar como um time", isso ressoa especialmente em um cenário onde o individualismo muitas vezes é glorificado. CS é, acima de tudo, um jogo de equipe - mas não qualquer tipo de equipe. Precisa ser uma equipe onde 1+1+1+1+1 não é igual a 5, mas sim a 6 ou 7.
Essa matemática contra-intuitiva é o que separa os bons times dos grandes times. E é exatamente isso que a paiN está tentando construir com dgt - não apenas somar talentos, mas multiplicar potencial.
Com informações do: Dust2
