Um torneio de esports em um navio da Marinha

Imagine assistir a uma competição profissional de Counter-Strike dentro de um navio de guerra. Parece cena de filme, mas foi exatamente o que aconteceu durante o Rio Innovation Week, organizado pela Federação do Estado do Rio de Janeiro de Esportes Eletrônicos (FERJEE). O presidente da entidade, Cadu Albuquerque, revelou os bastidores dessa produção incomum em entrevista ao Dust2 Brasil.

Negociações complexas e desafios logísticos

"Quando soubemos que o RIW estava negociando com a Marinha para trazer o navio, nos colocamos à disposição", contou Albuquerque. A ideia, porém, quase naufragou antes mesmo de começar. "A Marinha ficou cética no início. Há todo o militarismo, regras específicas... foi uma negociação dura."

O acordo final permitiu que o evento saísse da área externa do RIW para dentro do navio, com a condição de atrair público e oferecer uma experiência diferenciada. Mas os problemas estavam apenas começando.

  • Apenas 3 dias para montar toda a estrutura

  • Desafios com içamento de equipamentos

  • Problemas elétricos e de conectividade

  • Necessidade de refazer projetos durante a montagem

"Minha equipe praticamente não dormiu", admitiu o presidente da FERJEE. "Descobrimos na hora que precisaríamos mudar coisas, refazer medições... cada ajuste significava custos adicionais."

Quebrando preconceitos sobre jogos de tiro

Um dos aspectos mais surpreendentes foi a abertura da Marinha em relação à natureza do jogo. "Eles têm uma visão muito tranquila sobre esports", explicou Albuquerque. "Não houve resistência por ser um jogo de tiro - reconhecem a legitimidade dos esportes eletrônicos."

Para o presidente, essa aceitação representou um marco importante. "Trouxe credibilidade para construirmos algo assim dentro de um ambiente militar", avaliou.

Investimento milionário e legado

Quando o assunto é dinheiro, Albuquerque prefere não entrar em detalhes, mas revelou que o orçamento ultrapassou R$ 2 milhões. "Foi caro, mas não pensamos só no valor. Queríamos entregar emoção."

O esforço parece ter valido a pena. "Estamos mostrando que a FERJEE veio para ficar", comemorou. "Estabelecemos um padrão que precisa ser mantido no Brasil - campeonatos com qualidade europeia, atenção a jogadores, imprensa, narradores..."

Impacto no cenário competitivo brasileiro

O evento a bordo do navio marcou mais do que apenas uma experiência inovadora - representou um divisor de águas para o cenário competitivo nacional. "Recebemos feedbacks de organizadores internacionais que ficaram impressionados", revelou Albuquerque. "Isso coloca o Brasil em outro patamar nas discussões sobre sediar eventos maiores."

Mas será que essa visibilidade se traduz em benefícios concretos para os jogadores? Segundo o presidente da FERJEE, sim. "Estamos negociando com patrocinadores que antes não olhavam para o Brasil. Quando você mostra capacidade de execução em um projeto tão complexo, as portas se abrem."

Lições aprendidas e o futuro dos eventos

Quando perguntado sobre o que faria diferente, Albuquerque não hesitou: "Tudo. Mas isso é parte do aprendizado". A equipe documentou cada desafio enfrentado, criando um verdadeiro manual para futuras produções em locais não convencionais.

  • Planejamento de contingência para problemas elétricos

  • Protocolos mais rígidos para transporte de equipamentos

  • Checklists detalhados para aprovações em locais históricos ou militares

  • Orçamento reserva para imprevistos (que acabou sendo totalmente utilizado)

"Aprendemos que em projetos assim, o inesperado é a única certeza", brincou o presidente. "Mas também descobrimos que quando você entrega qualidade, até instituições tradicionais como a Marinha se tornam parceiras."

O papel das instituições no crescimento dos esports

A experiência levantou discussões importantes sobre como órgãos públicos e privados podem contribuir para o desenvolvimento dos esportes eletrônicos no país. "A Marinha poderia ter dito não e ninguém questionaria", refletiu Albuquerque. "Em vez disso, abraçaram a inovação."

Esse tipo de abertura, segundo ele, é crucial para eventos que quebram paradigmas. "Quando você tenta algo novo, sempre haverá resistência. Mas quando instituições respeitadas dão o aval, isso muda a percepção de toda a indústria."

O próximo passo? Albuquerque adianta que já estão em conversas para repetir a experiência, mas em escala maior. "Temos ideias que vão além do navio. Lugares que ninguém imaginaria para um campeonato de esports."

Com informações do: Dust2