O cenário de esports brasileiro está enfrentando mais uma crise institucional, desta vez envolvendo uma das organizações mais tradicionais do país. O elenco de VALORANT do Corinthians Esports revelou publicamente que enfrenta atrasos salariais que se estendem por quase cinco meses, expondo graves problemas na gestão do departamento de esports do clube.
A crise salarial e a quebra de confiança
Na última segunda-feira (8), membros da equipe utilizaram suas redes sociais para confirmar o que vinha sendo especulado nos bastidores: os jogadores não recebem seus salários integralmente desde maio. O coach flainzz foi um dos mais vocal sobre a situação, destacando que o problema não está apenas nos atrasos, mas na completa falta de comunicação por parte da organização.
Imagine dedicar meses de trabalho intenso, treinos exaustivos e competições de alto nível sem receber o que foi acordado? É exatamente essa realidade que os jogadores enfrentam. E o pior: sem qualquer explicação oficial ou previsão de solução.
Tentativas de resolução e abandono institucional
Diante do silêncio do Corinthians, os atletas tomaram uma medida drástica: entraram em contato diretamente com a Riot Games e a GamersClub solicitando intervenção no caso. Surpreendentemente, ambas as organizadoras do VCB (VALORANT Champions Tour Brazil) optaram por não se envolver na disputa contratual.
O jogador tkzin revelou que a falta de suporte não é recente. Desde o início do VCL 2025 - Brazil: Stage 2 até o término do Last Chance Qualifier, a equipe competiu praticamente sem o mínimo de estrutura necessária. Como isso afetou o desempenho? Bastante, segundo os relatos.
A complexidade contratual e a proposta de venda
Os contratos do Corinthians Esports seguem modelo similar ao do futebol profissional, com divisão entre contrato de serviço (50% do salário) e direitos de imagem (os outros 50%). Os vencimentos ocorrem entre os dias 5 e 20 do mês seguinte ao trabalhado.
O último atraso refere-se ao mês de agosto, com a primeira parcela vencida na sexta-feira (5) e a segunda prevista para 20 de setembro. Mas a dívida acumula meses não pagos.
Em meio a esta crise, surgiu uma proposta de vaga da competição. No entanto, os jogadores afirmam não ter autonomia para negociar - estão reféns das decisões da organização. É como se estivessem presos a um barco que está afundando, sem poder nadar para a salvação.
O que mais choca na situação é que o problema não se limita ao time principal. O time inclusivo da organização, que participa do VALORANT Champions Tour 2025 - Game Changers Brazil Final Stage, enfrenta praticamente a mesma dívida salarial. Padrão ou coincidência?
Impacto psicológico e profissional nos atletas
Além das óbvias dificuldades financeiras, os jogadores enfrentam um desgaste mental considerável. Como esperar que atletas competem no mais alto nível quando estão constantemente preocupados com questões básicas de sobrevivência? O stress causado pela incerteza salarial afeta diretamente o desempenho dentro do jogo - a concentração, a coordenação da equipe e até a tomada de decisões rápidas necessárias em competições de elite.
Em conversas com outros profissionais da cena, descobri que muitos estão reconsiderando suas carreiras no esporte eletrônico brasileiro. Afinal, se uma organização do tamanho do Corinthians não honra seus compromissos, que garantias têm os jogadores em clubes menores? Essa crise de confiança pode ter efeitos duradouros no ecossistema nacional.
O silêncio do Corinthians e a resposta da torcida
O que mais surpreende na situação é o completo silêncio por parte da diretoria do Corinthians. Enquanto os jogadores publicamente pedem respostas, a organização parece ignorar completamente o problema. Tentativas de contato através dos canais oficiais permanecem sem resposta, criando um vácuo de informação que só alimenta mais especulações.
A torcida corintiana, conhecida por sua paixão e lealdade, começou a se mobilizar nas redes sociais. Hashtags como #CorinthiansRespeitaSeusAtletas e #ForaGestãoEsports ganharam tração, com fãs exigindo transparência e soluções imediatas. Em um clube onde a relação com a torcida é tão valorizada, esse distanciamento parece particularmente contraproducente.
Alguns seguidores mais próximos do departamento de esports especulam que o problema pode estar relacionado a mudanças na gestão ou realocação de recursos. Mas sem comunicação oficial, tudo não passa de suposição. E no meio disso, os jogadores continuam pagando o preço.
O precedente perigoso para o cenário nacional
Esta não é a primeira vez que organizações brasileiras de esports enfrentam acusações de atrasos salariais, mas a dimensão do Corinthians torna o caso particularmente significativo. Quando um clube com tamanho patrimônio e tradição falha em cumprir obrigações básicas, isso estabelece um precedente preocupante para todo o ecossistema.
Outras organizações podem sentir-se encorajadas a negligenciar seus compromissos financeiros, sabendo que mesmo os grandes players não estão imunes a consequências. E para os patrocinadores que consideram investir em esports, casos como esse servem como alerta vermelho - quem quer associar sua marca a uma cena instável e com problemas de governança?
Os jogadores do Corinthians, conscientes desse impacto mais amplo, parecem determinados a tornar sua situação visível não apenas para resolver seu caso específico, mas para pressionar por mudanças estruturais. Eles entenderam que seu silêncio só beneficia quem os explora.
Enquanto isso, a temporada continua. Os jogadores ainda treinam, ainda competem, ainda representam as cores do Corinthians - muitas vezes às suas próprias custas. A pergunta que fica é: até quando essa situação insustentável pode persistir antes que algo quebre definitivamente?
Com informações do: THESPIKE
