A cena de esports brasileira está de luto nesta segunda-feira com a notícia do falecimento de Carlos "CeV" Picinato, ex-treinador que deixou sua marca tanto no Counter-Strike quanto no VALORANT. A organização paiN Gaming foi uma das primeiras a se manifestar, compartilhando uma emocionante mensagem de despedida nas redes sociais.
Carreira nos esports: do Counter-Strike ao VALORANT
CeV construiu uma trajetória respeitável nos esports competitivos. Tudo começou no Counter-Strike, onde assumiu o comando técnico da Redemption POA em abril de 2019, permanecendo até dezembro daquele mesmo ano. Seu trabalho chamou atenção suficiente para que, em fevereiro de 2020, a INTZ — uma das organizações mais tradicionais do cenário brasileiro — o contratasse para liderar sua equipe.
Mas o que muitos não sabem é que o tempo na INTZ foi relativamente curto — apenas seis meses. Às vezes, as melhores oportunidades surgem quando menos esperamos, não é mesmo? CeV deixou a organização em junho de 2020, momento que coincidiu com uma mudança significativa em sua carreira.
Transição para o VALORANT e novos desafios
Foi em 2020 que CeV fez a transição para o VALORANT, jogo da Riot Games que rapidamente conquistou espaço no cenamento competitivo. Ele teve papel fundamental nos primeiros passos da paiN Gaming no título, ajudando a construir as bases do que viria a ser uma das equipes mais reconhecidas do Brasil no game.
O que me impressiona é como profissionais como CeV conseguem se adaptar a novos games e manter relevância em cenários tão competitivos. Em 2021, ele assumiu uma nova função dentro da paiN Gaming, migrando para a posição de manager — demostrando versatidade e capacidade de evoluir dentro da organização.
Fora dos esports, CeV mantinha outra profissão: quiropraxista. Essa dualidade entre paixão pelos games e outra carreira profissional é mais comum do que imaginamos no cenário de esports brasileiro.
Reação da comunidade e legado
A notícia de seu falecimento gerou uma onda de comoção nas redes sociais. A paiN Gaming publicou no X (antigo Twitter): "É com imensa tristeza que nos despedimos de CeV. Sua generosidade, amizade e paixão deixaram marcas que jamais serão esquecidas. Desejamos força à família, amigos e todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Descanse em paz".
A causa da morte não foi divulgada, respeitando o momento delicado da família e amigos. O que fica evidente é o impacto que CeV teve na vida de quem trabalhou com ele — seja como treinador, manager ou simplesmente como colega.
Além da paiN Gaming, outras organizações e figuras do cenamento também prestaram suas homenagens. A INTZ, onde CeV teve passagem, manifestou solidariedade: 'Nossos sentimentos à família e amigos de CeV. Uma grande perda para nossa comunidade'. Jogadores que trabalharam sob seu comando compartilharam histórias pessoais nas redes, lembrando não apenas do profissional competente, mas principalmente da qualidade humana que marcou quem o conheceu.
O que muitas pessoas fora do ambiente de esports não compreendem é a intensidade das relações que se formam dentro dessas equipes. São horas intermináveis de treino, viagens, pressão por resultados e momentos de tensão que criam laços profundos — quase familiares. CeV parece ter sido uma daquelas figuras que conseguia equilibrar a exigência técnica com o apoio emocional, uma combinação rara e valiosa em qualquer ambiente competitivo.
O duplo caminho: esports e quiropraxia
CeV mantinha simultaneamente carreira como quiropraxista, demonstrando uma versatidade impressionante. Essa não é uma situação incomum no Brasil, onde muitos profissionais de esports precisam conciliar sua paixão pelos games com outras profissões para garantir sustento financeiro. A realidade é que apenas uma minoria consegue viver exclusivamente dos esports no país, especialmente em posições técnicas como a de treinador.
Conheci vários casos de coaches que precisavam acordar às 5h para trabalhar em seus empregos 'tradicionais', treinar com as equipes à noite e ainda estudar para se manter atualizado. CeV era mais um exemplo dessa dedicação dupla — alguém que não mediu esforços para estar presente tanto no mundo dos esports quanto em sua outra profissão. Essa capacidade de transitar entre dois universos tão distintos diz muito sobre seu caráter e determinação.
Aliás, essa dupla jornada me faz pensar: quantos talentos podemos estar perdendo no cenário nacional porque simplesmente não há condições financeiras para que se dediquem integralmente aos esports? CeV conseguiu deixar sua marca mesmo assim, mas quantos outros não conseguem?
O legado técnico e as inovações
Profissionais que trabalharam com CeV destacam sua metodologia de trabalho e capacidade de análise. Ele tinha uma abordagem particular para o desenvolvimento de jogadores, focando não apenas no aspecto técnico mas também no psicológico. Em uma entrevista concedida em 2020, ele mencionou: 'Muitos treinadores se preocupam apenas com estratégias e táticas, mas se esquecem que estão lidando com jovens sob pressão constante'.
Seu período na transição do Counter-Strike para o VALORANT foi particularmente interessante. CeV foi um dos primeiros treinadores a identificar as similaridades e diferenças fundamentais entre os dois jogos, adaptando estratégias de forma criativa. Ele entendia que não se tratava apenas de transferir conhecimento, mas de reinventar approaches para um game com dinâmicas distintas.
Algumas de suas inovações em treinamentos incluíam sessões de análise de VOD que focavam especificamente na tomada de decisão em momentos de alta pressão, algo que depois se tornou prática comum entre várias equipes brasileiras. Ele também implementou rotinas de comunicação que privilegiavam a clareza objetiva durante as partidas — sem excesso de informação, apenas o essencial para manter a equipe coordenada.
O trabalho de CeV na formação de novos talentos também merece destaque. Durante seu tempo na paiN Gaming, ele foi instrumental na identificação e desenvolvimento de jogadores que mais tarde se tornariam peças-chave em outras organizações. Sua capacidade de enxergar potencial além do desempenho imediato era algo que colegas frequentemente mencionavam.
Um exemplo notável foi sua insistência em dar chances para um jogador que vinha performando abaixo do esperado nas categorias de base. CeV argumentava que o problema não era técnico, mas de confiança — e dedicou semanas trabalhando especificamente nesse aspecto. O jogador em questão hoje é um dos nomes consolidados no cenário nacional, fato que muitos atribuem à paciência e visão de longo prazo de CeV.
Essa abordagem humanizada no treinamento é especialmente relevante em um ambiente onde a rotatividade é alta e a pressão por resultados imediatos constantemente ameaça o desenvolvimento sustentável de talentos. CeV parecia entender que construir uma equipe vencedora ia além das estratégias de jogo — passava necessariamente pela construção de confiança e resiliência mental.
Com informações do: Dust2