O "Efeito Tabe" e a revolução nos treinos do cenário brasileiro

Durante o MSI 2025, uma entrevista do técnico chinês Tabe com o streamer Caedrel causou um terremoto no cenário competitivo brasileiro de League of Legends. O coach da equipe AL revelou detalhes da exaustiva rotina de treinos na China, incluindo três blocos diários que se estendiam até altas horas da madrugada.

Essa revelação gerou o que ficou conhecido como "Efeito Tabe" - um movimento onde times brasileiros começaram a implementar blocos noturnos de treino, cada um à sua maneira. Mas será que essa abordagem realmente funciona para o cenário nacional?

As diferentes abordagens dos times da LTA Sul

Conversamos com representantes de todas as equipes da LTA Sul 2025 para entender como cada organização está lidando com essa nova realidade de treinos intensivos:

  • LOUD: O técnico Raise defende a divisão em blocos como forma de reduzir a fadiga dos jogadores

  • RED Canids: Tockers mantém ceticismo, afirmando que treinos noturnos não revolucionarão o cenário

  • Vivo Keyd: Bielzera busca equilíbrio com três blocos noturnos semanais

  • FURIA: Maestro e Thinkcard adotaram rotina próxima das equipes orientais

  • paiN Gaming: Sarkis implementa blocos noturnos apenas em dias específicos

Os desafios e benefícios dos treinos noturnos

Enquanto alguns técnicos como Thinkcard da FURIA defendem que "não há desculpas" para não treinar no mesmo ritmo das equipes asiáticas, outros como Tockers alertam para os riscos de burnout. O assistente-técnico da RED Canids foi categórico:

"Mesmo que você faça o treino noturno, ele não é tão proveitoso quanto um scrim tradicional. É mais repetição, testar alguns drafts. Esses treinos acabam sendo muito mais 'feeling' do que algo realmente pensado e estruturado."

Por outro lado, Sammy da Fluxo W7M argumenta que a consistência é chave: "A partir do momento que você começa a fazer com frequência, por vários dias seguidos, durante um mês, isso começa a se tornar natural."

Adaptações culturais e fisiológicas necessárias

A implementação dos treinos noturnos no Brasil esbarra em diferenças culturais e fisiológicas significativas em comparação com a China. Enquanto no Oriente a cultura de trabalho intensivo já está enraizada, os jogadores brasileiros precisam passar por um período de adaptação tanto mental quanto física.

Dr. Lucas Oliveira, especialista em performance esportiva, explica: "O corpo humano tem um ritmo circadiano natural que varia entre indivíduos. Forçar jogadores noturnos a treinar até 3h da manhã pode ser contraproducente se não houver um acompanhamento nutricional e de sono adequado".

Casos de sucesso e fracasso no cenário internacional

Olhando para outros cenários competitivos, encontramos exemplos que podem servir de lição para o Brasil:

  • Coreia do Sul: A rotina de 15-18 horas diárias de treino já causou vários casos de burnout entre pro players

  • Europa: Equipes como G2 encontraram equilíbrio com blocos concentrados mas com maior ênfase em qualidade

  • América do Norte: TSM tentou implementar rotina chinesa em 2023 mas abandonou após queda de performance

Um caso interessante vem da Austrália, onde a equipe da Dire Wolves adaptou os treinos noturnos de forma gradual, começando com um bloco adicional por semana e aumentando progressivamente.

O papel da psicologia esportiva

Psicólogos do esporte alertam que a simples replicação de métodos sem adaptação pode ser perigosa. Marina Costa, que trabalha com várias equipes da LTA, comenta:

"Estamos monitorando de perto os níveis de estresse dos jogadores. Alguns se adaptam bem, mas outros mostram sinais claros de fadiga mental após duas semanas de rotina intensiva. Não existe fórmula mágica - cada jogador tem seu limite."

Ela destaca que equipes como a LOUD estão investindo em acompanhamento psicológico diário, enquanto outras ainda negligenciam este aspecto crucial.

Inovações nos métodos de treino

Algumas equipes brasileiras estão indo além da simples cópia do modelo chinês, criando abordagens híbridas:

  • Fluxo W7M: Desenvolveu "micro-blocos" de 45 minutos com objetivos específicos

  • INTZ: Implementou sessões de VOD review noturnas intercaladas com prática mecânica

  • Liberty: Criou um sistema de rodízio onde apenas parte do time fica até mais tarde

O analista da FURIA, Maestro, revelou que estão testando uma abordagem inovadora: "Dividimos o dia em blocos temáticos - manhã para mecânica, tarde para scrims e noite para teoria e análise. Assim evitamos a monotonia que leva ao esgotamento."

Com informações do: maisesports.com.br